Uma bicicleta, uma câmera fotográfica e um mapa da América do Sul. É basicamente isso que o fotógrafo de Uberaba, Bernardo Salce, de 31 anos, precisa para completar a viagem que faz continente. A aventura começou há dois meses, em Bogotá. Desde então, Bernardo já pedalou quase 2.000 quilômetros pela Colômbia até chegar aos Andes do Equador, país onde ficará até junho.
O interesse em explorar os países vizinhos surgiu há anos, quando, curiosamente, leu livros que valorizavam as terras latinas. De lá pra cá, Bernardo saiu do Brasil, estudou em Portugal e morou em Camboja, onde o fotógrafo embarcou em um avião com destino à Bogotá. Na mala, somente roupas leves e o saco de dormir.
O objetivo é percorrer 25 mil quilômetros por estradas menores, que passem por pequenos vilarejos. Depois do Equador, Bernardo vai pedalar por Peru, Bolívia, Chile, Argentina e Uruguai, onde a viagem termina.
Bernardo prefere andar por estradas menores nos países por onde passa
“As estradas pelo interior me levam por paisagens incríveis, pitorescas e me colocam mais próximo de um contato com a cultura e as populações locais. Também visito capitais e locais de notável valor turístico, mas, talvez a grande diretriz da minha viagem seja justamente percorrer por lugares ainda desconhecidos ou pouco explorados no cenário turístico. Esta viagem de bicicleta, possivelmente, terminará em Montevideo, embora eu já esteja amadurecendo a ideia de completar um círculo pela América do Sul, subindo pelo litoral brasileiro e chegando novamente a Colômbia”, explicou Salce.
Viagem em duas rodas
Bernardo viaja sozinho, mas acredita que isso não faz com que ele se sinta solitário. Por onde passa, ele faz questão de fazer amizades com os nativos e registrar tudo em fotos que são compartilhadas nas redes sociais.
Entre as dificuldades em viajar de bicicleta, o uberabense conta que estão os dias sem banho, com chuva, frio e às vezes fome. A saudade de casa, da família e dos amigos também fazem parte do desafio.
Viajar de bicicleta (...) nos fazer apreciar as coisas aparentemente pequenas e simples"
Bernardo Salce, fotógrafo
“Viajar de bicicleta reforça valores como humildade, generosidade, compaixão e gratidão, além de nos fazer apreciar as coisas aparentemente pequenas e simples. Ao mesmo tempo em que gosto de estar em um lugar novo, às vezes sinto falta de ter um lugar para chamar de casa. Mas estou ciente de que este e um preço que devo pagar se quero terminar esta viagem”, desabafou.
Pedal por incentivo
Para o fotógrafo mineiro, viajar de bicicleta se relaciona a estar em constante conectividade com o mundo ao redor. Antes de sair pedalando, Bernardo leu livros, viu documentários e filmes de aventuras que lhe deram motivação e coragem para seguir viagem. Além dos incentivos materiais, uma pessoa, em especial, também influenciou nas decisões que foram tomadas: a mãe dele.
Ciclista procura fotografar cultura dos países
“Tenho a sorte de ter uma mãe professora de Português e Literatura, pois a minha casa sempre esteve repleta de obras inspiradoras. Viajar é um vício. Acredito que a minha curiosidade acerca das diferentes culturas e histórias que encontramos mundo afora e o meu desejo em fotografa-las também me mantêm em movimento", contou.
Coração de quem fica
Enquanto o filho pedala pela América do Sul, o coração da professora Cacá Salce fica apreensivo, mas cheio de orgulho. Ela confessa que sempre gostou de viajar e que deve ter tido influência, mesmo que indireta, no interesse do Bernardo em explorar os cantos do mundo.
Mãe de Bernardo, Cacá, incentivou filho a seguir
viagem (Foto: Bernardo Salce/Arquivo Pessoal )
“Eu sempre gostei muito de viajar, de conhecer novos lugares e, depois de ter meus filhos, mantive esse hábito com eles. Nas férias escolares passávamos alguns dias passeando, de preferência no litoral que é a ‘minha praia’. Nunca imaginei que isso fosse influenciar o Bernardo a se aventurar dessa forma”, compartilhou.
Além de Bernardo, Cacá tem mais dois filhos que também não moram mais com ela. No entanto, com a distância, a professora teve que se adaptar a maneira de cuidar dos filhos.
“É muito difícil manter contato com os filhos apenas pelas redes sociais, principalmente quando os perigos a que estão expostos são de diversas e inúmeras naturezas. Além disso, são incontáveis os momentos em que o contato físico se faz tão necessário e tão importante. Confesso que é muito doído”.
Fotógrafo viaja sozinho de bike pela América do Sul
Outros planos
A viagem não tem data para terminar, já que o destino final pode mudar de acordo com a vontade do ciclista. Entre os planos futuros está o de viajar pelo continente africano. Para viajar, Bernardo juntou um pouco de dinheiro que ganhou enquanto trabalhava como fotógrafo em Camboja. Ele sabe que o que leva não durará muito e que poderá recorrer à empregos temporários para seguir viagem. Mas nem isso atrapalha o desejo do viajante em seguir em frente.
“Viajar de bicicleta me prova o quanto é importante nos desafiarmos pois, só assim, nós crescemos e seguimos rumo a diante. Muitos me perguntam o porquê de eu viajar de bike e eu costumo dizer que gosto do desafio físico e mental, da sensação de liberdade, da aventura. Acho que essa viagem me fez valorizar as coisas que tomamos como garantidas no nosso dia a dia, como um banho quente, uma cama limpa e confortável”, concluiu.
Bernardo foi incentivado por livros, filmes, documentários e pela mãe
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